Por meio de autenticações e melhores matchmakings, mais nova startup da Wayra quer fomentar melhores experiências para gamers do mundo todo
Se a indústria de games já estava em franco crescimento, a necessidade das pessoas se manterem em casa durante a pandemia só catapultou o setor, que viu o número de jogadores entre 2020 e 2021 aumentar em 5,4% e agora estima um crescimento de 8,7%, devendo representar mais de US$ 218 bilhões até 2024. No entanto, o setor inteiro ainda lida com um importante obstáculo: oferecer experiências positivas para os gamers, sejam eles crianças, jovens ou adultos.
E foi exatamente para garantir a segurança e a experiência positiva nos jogos que os empreendedores Maria Tamellini e Rodrigo Tamellini criaram a GamerSafer, startup que promove segurança nos jogos online, focada no combate de crimes, fraudes e comportamentos abusivos. Por meio de um processo que autentica os perfis dos jogadores, a GamerSafer não só evita fraudes em torneios profissionais, como também auxilia no processo de pareamento (“matchmaking”) entre os jogadores de cada game.
A criação da GamerSafer aconteceu também a partir de um “matchmaking” entre a visão de empreendedorismo de impacto social de Maria e a experiência profissional de Rodrigo, que atuava na divisão de gaming de uma fabricante de chips. Juntos, concluíram que o impacto de uma boa interação entre os jogadores é crucial para o desenvolvimento do setor.
Garantir uma boa experiência de jogo vai desde impedir fraudes em competições de eSports até temas mais sensíveis. “É um desafio que envolve uma escala grande de problemas, de maneira a evitar comportamentos tóxicos, antissociais ou criminosos, como assédio, bullying, sexismo, racismo, roubo de identidade, contas falsas ou duplicadas, aliciamento de menores, comportamento predatório, entre outros”, elenca Rodrigo, CEO da startup, reforçando a segurança como um direito fundamental, tanto online como offline.
A solução da GamerSafer foi encontrar um modelo cuidadoso o suficiente para evitar todas essas situações e que, ao mesmo tempo, não segregasse os jogadores. Para isso, a startup autentica, via escaneamento facial, cada jogador cadastrado, comprovando sua identidade e evitando a duplicação de contas, comportamento típico de quem pretende fazer mal uso do ambiente gamer.
Para garantir a privacidade dos jogadores, a GamerSafer só armazena as coordenadas biométricas do escaneamento facial, coletando o menor número de dados sensíveis possíveis, de maneira alinhada às exigências tanto da GDPR europeia quanto da LGPD brasileira.
Após a autenticação, a plataforma também coleta algumas preferências declaradas pelos jogadores e analisa o comportamento deles durante os jogos, detectando se eles têm um perfil mais competitivo ou colaborativo, por exemplo. Dessa forma, a GamerSafer consegue parear jogadores mais compatíveis, em termos de perfis declarados e detectados, evitando mesclar aqueles que não vão oferecer boas experiências uns aos outros.
“Também promovemos o que chamamos de Player Empowerment, esse empoderamento dos jogadores, quando através das preferências deles, os jogos podem criar experiências melhores e mais customizadas”, explica a fundadora e COO da startup.
Impacto social que leva a mais diversidade no mundo dos jogos
Se engana quem enxerga a GamerSafer apenas como uma ferramenta de controle parental: o objetivo da startup é gerar um impacto muito mais amplo, mudando a forma como o mundo dos jogos online se apresenta para gamers de todas as faixas etárias, identidades e classes sociais.
Isso porque o comportamento tóxico dos jogos não preocupa apenas pais e mães, mas também afasta jogadores adultos. Uma pesquisa da ADL revelou que 81% dos gamers adultos de jogos multiplayers declararam ter sofrido algum tipo de assédio em 2020. Essas más experiências chegaram a fazer com que 28% dos jogadores passassem a evitar certos jogos, enquanto um em cada cinco chegou a parar de jogar por conta da sensação de hostilidade.
Segundo estimativas da GamerSafer, comportamentos tóxicos mais severos representam cerca de US$ 10 bilhões em perdas para a indústria. Esta é a magnitude da oportunidade que a empresa endereça com um serviço de autenticação de baixo custo e fácil integração, oferecido aos jogos e plataformas de esportes eletrônicos em todo o mundo.
“Nossa missão é criar um mundo gamer seguro e isso com certeza contribui muito com todas as questões de diversidade dentro dos jogos. Bullying e assédio, por exemplo, afetam mulheres, minorias e outros grupos em larga escala, e as nossas ferramentas vêm para impedir esses ataques”, promete Maria.
Do Brasil para o mundo
Ambos os fundadores da GamerSafer são brasileiros que residem no Vale do Silício, o que os beneficiou com uma série de facilidades em termos de burocracias. Maria destaca que o processo de criação da empresa foi feito 100% online, de maneira muito mais prática do que se recordava ser possível quando ela empreendeu no Brasil, há cerca de 7 anos.
“Mas também não podemos romantizar [a atitude de empreender], porque apesar de sermos privilegiados em vários aspectos, ainda somos fundadores internacionais em solo americano”, pondera a COO. Afinal, mesmo com as facilidades burocráticas e a abertura dos empreendedores nos EUA em compartilhar seus aprendizados, os fundadores não são nem americanos nem hispânicos, o que os deixou um tanto órfãos de “pertencer” a uma comunidade.
Para superar essa desconexão, Maria evitou “se colocar em caixinhas”, preferindo focar nos tipos de perfis e pessoas poderiam colaborar com ela ou ajudá-la. “Tenho orgulho de todas as minhas identidades — brasileira, latina, mulher, mãe, empreendedora — mas não me relaciono com as pessoas apenas com base nisso. Claro que isso ajuda a criar identificação, mas para mim o mais importante é o mindset e o alinhamento de valores”, explica a empreendedora.
Preparada para voar
Ao chegar à Wayra como a mais recente investida, a GamerSafer se prepara para testar a escalabilidade da sua oferta para o mercado. Hoje, a startup já realiza a autenticação de jogadores do Minecraft, considerado o jogo mais vendido de todos os tempos, e agora pretende se aproximar também de outras produtoras de games.
“Estamos construindo alianças com empresas que oferecem serviços de servidor para o ecossistema de Minecraft, além de outros grandes publishers. Essas alianças estratégicas vão nos ajudar a alcançar mais jogadores de maneira mais rápida”, antecipa a empreendedora. Animada com a presença global da Wayra, que tem hubs também na Europa, um importante mercado para os eSports, a expectativa da GamerSafer é conseguir otimizar ainda mais estas parcerias para alcançar novos estúdios de games. “A possibilidade de fazer negócios inclusive com a Telefónica é algo que vamos explorar, além de aproveitar o benefício de fazer parte de uma comunidade de empreendedores que têm um senso de coletividade e atua para um crescimento conjunto”, celebra a COO.
Pingue-Pongue com Maria Tamellini
Perguntas e respostas rápidas
Uma certeza? Impacto
Um arrependimento? Não ter começado antes
Maior desafio superado? Ter sido mãe na adolescência e ver meu filho entrar na melhor faculdade dos EUA
Conselho mais importante que recebeu? Siga seu coração, mas tenha estratégia para fazer acontecer
O que os gamers mais querem? Ter experiências positivas e satisfatórias
Ser investida da Wayra é? Escalar nosso sucesso