Além de novas chances de parcerias com grandes corporações que buscam agilidade para atingir metas de ESG, startups também devem se preocupar com todos os seus stakeholders
A responsabilidade social e ambiental das empresas não é um tema novo, porém o assunto tem recebido cada vez mais importância. Além da crescente demanda dos consumidores, que estão se importando mais com a sustentabilidade dos produtos e serviços que consomem, estão também surgindo novas pressões por negócios mais éticos, provenientes de influenciadores do mercado, como investidores e entidades reguladoras.
Enquanto o tema evolui por aqui, na Europa o assunto está tão avançado que novas proposta de relatórios não financeiros estão sendo criadas de forma a tornar assuntos ambientais, sociais e de governança (conhecidos pela sigla ESG, de Environment, Social and Governance) quase tão relevantes quanto questões financeiras, o que levará as corporações a tomarem atitudes mais responsáveis.
Assim, estar atento aos impactos sociais dos negócios já ultrapassa as preocupações das equipes de RH ou marketing, transformando-se em uma meta importante para os negócios. Afinal, será a partir de um bom cuidado com os assuntos de ESG que as corporações conseguirão manter um bom relacionamento com entidades reguladoras, investidores, público alvo e outros stakeholders.
É por isso que junto com o ESG, surgem também discussões sobre o capitalismo de stakeholder, visão que defende que as empresas busquem a criação de valor no longo prazo, considerando demandas e necessidades de todas as partes envolvidas no negócio — o que inclui fornecedores, colaboradores, consumidores, investidores e a sociedade em geral.
No capitalismo de stakeholder, o propósito das companhias é principalmente criar valor no longo prazo e não apenas maximizar lucros às custas de impactos negativos para outras partes interessadas. Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, é um dos defensores desse modelo, que acredita que atender os interesses de todas as partes interessadas (os stakeholders) e não só os acionistas (os shareholders) é essencial para o sucesso e a saúde dos negócios no longo prazo, além de ser uma decisão de negócios mais ética e sensível.
“Depois do choque inicial da Covid-19, foi possível vislumbrar o que é possível acontecer quando os stakeholders agem para o bem comum, pensando no bem estar de todos, ao invés de focar apenas em alguns poucos”, defendeu Schwab recentemente na revista Time.
E os dados mostram que não se limitar a apenas gerar lucro pode… gerar mais lucro. Um estudo da consultoria McKinsey, que analisou empresas de médio e grande porte nos EUA entre 2001 e 2015, revelou que aquelas que trabalhavam com uma visão de longo prazo — algo essencial para o capitalismo de stakeholder — superaram as outras em termos de ganhos, receita e investimento. A mesma McKinsey também descobriu que empresas com fortes normas ambientais, sociais e de governança (ESG) registraram melhor desempenho e maior classificação de crédito, além de uma melhor performance em momentos de crise.
Tanto é que o assunto de ESG está hoje na ponta da língua dos executivos: segundo uma pesquisa da Stilingue junto com o Pacto Global, iniciativa da ONU que visa encorajar as empresas a adotarem políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, o termo “ESG” só foi considerado novidade para 11% dos CEOs entrevistados em 2020.
A expectativa é que também surjam novas oportunidades de parcerias entre as corporações e negócios de impacto abrangentes também à startups.Isso porque não se espera que as empresas façam mudanças drásticas nas suas operações, mas que passem a ter uma perspectiva de longo prazo sobre a missão da organização, e uma das formas de conseguir fazer isso é colaborando com empreendedores que tenham viés de impacto socioambiental, como costuma acontecer nas edtechs, healthtechs,fintechs e diversas outras verticais.
Da mesma forma, as startups e negócios de impacto também deverão refletir sobre os cuidados que devem tomar para atender os seus stakeholders e se conectar com as metas globais de ESG, de forma a estarem conectadas com as preocupações dos diretores e executivos das corporações com as quais poderão vir a fazer negócios.
Essa mudança de paradigma na forma de fazer negócios, no final das contas, não altera as dinâmicas básicas de administração das companhias e das startups, mas traz uma nova camada de atenção sobre a missão que vai guiar os modelos de negócios e planejamentos de longo prazo das iniciativas que quiserem fazer sucesso daqui por diante.